Antes de “El Nene” Cubillas mostrar ao mundo a qualidade do futebol peruano, Víctor Benítez Morales, “El Conejo”, cumpriu esta missão. Nascido no dia 30 de outubro de 1935, na cidade de Lima, no Peru, Benítez vem de uma família de jogadores, tal qual ele seria. Este é o tema da coluna Guerreros de Cubillas destas semana.
Os primeiros pulos de “El Conejo” Benítez
Criado na base do Racing-PER, foi para os juniores do Alianza Lima no começo da década de 50. Pelo Blanquiazul, disputando profissionalmente o Campeonato Peruano da 1ª divisão, se sagrou campeão no ano de estreia (1954) e no ano seguinte (1955).
O então zagueiro que mostrava um futebol seguro e vistoso, teve como resultado a convocação para a seleção peruana. Na Copa América de 1959, em Buenos Aires, o craque teve atuações de gala. O empate com o Brasil (recém-campeão do mundo) e a vitória de goleada sobre o Uruguai, definitivamente o colocam em evidência. Os jornais, acima de tudo, exaltavam o jogador que anulou Pelé e Didi e encantou o lendário técnico brasileiro Oswaldo Brandão. O treinador afirmava que “El Conejo” Benítez era o melhor jogador do Peru.
As boas atuações do defensor enfim o levariam para outros gramados. Após ver o bom futebol do peruano em casa, o Boca Juniors contratou o jogador em 1960. Seu último jogo pela equipe blanquiazul foi em uma derrota de 2 x 1 para o Santos, de Pelé.
“El Conejo” Benítez é do Boca
A chegada do defensor ao clube xeneize foi um acontecimento. jornais peruanos então noticiavam com festa e orgulho a negociação. “Ao Boca faz falta um jogador com a qualidade do peruano”, disse Alberto Armando, presidente do Boca Juniors na época. O cartola, assim como os torcedores, se alegraram com a transferência, mesmo tendo altas cifras.
No dia 6 de março de 1960, estreia “EI Conejo” Benítez em uma partida contra o Independiente. 60 mil pessoas viram um jogador rápido e valente que estreou com vitória. O Boca bateu o adversário por 2 x 0 e só se falava que o peruano seria a sensação do campeonato. O craque dizia que briga maior era pela titularidade na zaga do Boca. Afirmava também que no Peru jogava, às vezes, sem torcida, coisa que não acontecia na Argentina. Todo jogo, principalmente Boca x River, era um acontecimento, uma guerra onde a vergonha ficava com o derrotado.
Precisamente no dia 6 de agosto de 1961, no Monumental de Nuñes, “El Conejo” Benítez balançou a rede e entrou pra história como o primeiro peruano a marcar no super clássico argentino. O título de campeão argentino enfim chegaria em 1962. Neste ano, diretores do Milan, a princípio, vieram ver Antonio Rattín, mas logo mudaram de ideia. O futebol do peruano chamou mais atenção e, assim, em novembro daquele ano, rumou para Itália.
“El Conejo” Benítez na Itália
O zagueiro deixa a América, assim como a zaga, para se juntar, como volante, a alguns dos craques da época. Em 1963, o Milan tinha no elenco Cesare Maldini, Gianni Rivera, Giovanni Tapattoni, Gigi Riva, assim como os brasileiros Dino Sani e Mazzola. Ficou conhecido como “O Peruano de Fogo”, por ser polivalente, incansável, forte e ter muita vitalidade na marcação. Os meio-campistas mais habilidosos da equipe rossoneri, sobretudo, tinham segurança com Benítez na contenção.
Conquistando a Europa
Antes de Pizarro se tornar campeão da Liga dos Campeões da UEFA, “El Conejo” Benítez alcançou esta glória defendendo as cores do Milan em 1963. Após vencer US Luxemburgo–LUX, Ipswich Town–ING, Galatasaray –TUR e Dundee United–ESC, a equipe milanista iria para a final contra o Benfica. Os Encarnados então contavam com Eusébio, tido como o melhor jogador da Europa na época. Seria papel de Benítez anular o Pantera naquele jogo único no lendário estádio Wembley, na Inglaterra, para mais de 40 mil pessoas. Definitivamente seria uma das grandes finais da história da liga.
O Milan estava acostumado a golear seus adversários, ao contrário do Benfica, que vinha de resultados mais justos. Eusébio conseguiu superar a cobertura feita por Benítez e marcar para os portugueses, ainda no 1º tempo. O gol sofrido antes dos 20 minutos, definitivamente, não abalou a equipe italiana. O Milan se lançou ao ataque por todo restante do jogo até que os gols, por fim, apareceram.
O brasileiro Mazolla, aos 13′ e aos 21′ do 2º tempo, empatou e virou o jogo para os Rossoneri. Após o gol do Benfica, Eusébio foi anulado pelo volante peruano até o fim do jogo, mostrando que nada tiraria a taça de “El Conejo”. O jogo terminou com os italianos conquistando pela primeira vez a Europa. E assim Benítez entrou para a história do Milan e para história do Peru como primeiro peruano a ganhar uma Liga dos Campeões da UEFA.
“El Conejo” Benítez pode parar o Rei novamente?
O Milan iria disputar a Copa Intercontinental contra o melhor time do mundo até então. O adversário era o Santos e Benítez teria de enfrentar Pelé novamente. Assim como aconteceu com Eusébio, o peruano conseguiu anular o Rei do Futebol, mas não anulou o Peixe. A copa foi disputada em três jogos. Em Milão, 4 x 2 para os mandantes, com dois de Pelé para os visitantes e seu compatriota, Amarildo, anotou dois dos Milanistas. Benítez não jogou.
Já no segundo embate, no Maracanã, vitória do Santos por também 4 x 2, outra vez sem Benítez. Então, foi necessária uma partida de desempate. Apenas nesta terceira partida, disputada no Maracanã, “El Conejo” entrou em campo e lá viu o Milan ser derrotado, com um a menos, por 1 x 0. Neste dia nem foi necessário parar Pelé, pois este não jogou.
Uma tour pela Bota
Mesmo sendo regular, “El Conejo” Benítez decidiu rodar pelo País da Bota. O defensor defendeu o Messina, em 1964, mas voltou ao Milan no mesmo ano. Logo depois, em 1965, se transferiu para o Roma e ficou por um ano. Jogou pelo Venezia de 1966 a 1967 e, finalmente, chegou à Inter de Milão.
Pela Inter, Benítez entrou para história dos clássicos do futebol, assim como fez na Argentina. Seu gol contra o Milan, pela Série A, em 1968, foi o primeiro gol feito por um peruano na história do Derby della Madonnina. O jogador deixou a Inter em 1968 para voltar à Roma, tendo como resultado, em 1969, o título da Copa da Itália.
“El Conejo” Benítez voltou para se aposentar
Após vitoriosa passagem pelo Velho Mundo, Benítez voltou para o Peru para jogar pelo Sporting Cristal, em 1971. Logo no ano seguinte, após boa campanha no Peruano da 1ª divisão, o Sporting teve como resultado o título nacional. Foi o quinto título do Sporting Cristal e o terceiro de “El Conejo” Benítez. O clube deixou o maior campeão da liga, até então, Universitário, em 2º lugar.
Benítez disputou ainda mais uma temporada pelo Sporting Cristal, mas, por fim, acabou encerrando sua longa carreira aos 38 anos. Víctor Benítez hoje tem 85 anos, é ídolo do Alianza Lima, do Sporting Cristal, mas, sobretudo, é ídolo do Milan. A torcida rossoneri não se esquece de quem defendeu com tanta garra a sua camisa e ainda mais de quem deu seu primeiro título continental.
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